Binary Bodies (after Muybridge) (2009)
Manuel Luís Cochofel
Binary Bodies – After Muybridge
por Rui Effe
São silhuetas de pontos coloridos, são pontos de uma historia. Uma historia de amor, de saudade, de mulheres energéticas de cintas estreitas pelos espartilhos; um universo onde as personagens vivem suspensas entre o doce e o acre do pontilhado. Manuel Luís Cochofel vinca as teorias da Era da Reprodutibilidade Técnica, como Walter Benjamim, no ensaio A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica (1936), tinha referido como sendo as novas potencialidades artísticas - as reproduções.
Acabou de facto, há muito, a ideia do sentido único, da unicidade que acarretava o distanciamento e que afastava o observador de qualquer objecto artístico, assim como o sentido elitista a que a teoria da imagem se predispunha. Acabou há já muito tempo a necessidade de sabermos o que é de facto nosso ou aquilo que porventura sempre pareceu ser nosso, pois, quer no sentido da construção quer pela sua reprodutibilidade, as imagens constroem-se constante e autenticamente. E como o que é autentico é a realidade vivida, as imagens são para o indivíduo novas realidades, autênticas. É a pergunta; "isto é de quem?", que torna a estética fora de qualquer circuito egoistamente de um só autor.
Somos a favor de uma identidade própria, mas, propriamente bem reconstruída. Leia-se reconstruída.
É a fuga ao totalitarismo de qualquer movimento ético/estético que contraria as leis enraizadas, leis de terra.
Uma questão política? Evidentemente uma questão política e de dimensões democráticas ao usufruto e ao abandono do sentido da unicidade. Manuel Luís Cochofel guia-nos por um caminho, seu escolhido, como sendo uma alternativa à democratização estética. Porém, ao contrário desta defesa do mero reprodutível, o artista enfrenta o conceito da reprodução exacta e manipula os originais. As imagens, outrora de outros e dos próprios figurados, roubadas e posteriormente picadas pelo autor são repartidas, fragmentadas, ampliadas bruscamente até que pela sua trama haja a possibilidade de nelas entrar. Por si embrulhadas delicadamente, são imagens novas nascidas de velhas e usadas fotografias que foi acarinhando durante os seus passeios virtuais. Manuel Luís Cochofel adoptou-as, tornou-as suas e fez delas um elástico bem aberto. São agora imagens que, apesar de sugerirem uma trama fragilizada, pela sua provocada amplitude, não tendem a romper nem tão pouco a afastar-se do seu ente origem ou do seu corpo primeiro.
Neste mundo, de Cochofel, as figurações não são lambidas, nem polidas, nem maquilhadas por qualquer pó de arroz. As fotografias são cruas e agrestes como as pedras cristalizadas e pouco gastas de caminhos novos. Cochofel picou, à sua imagem, as imagens de Eadweard Muybridge, velhas e polidas pelo tempo como quem debica compulsivamente as pedras da calçada para que nelas não escorregue.
São silhuetas de pontos coloridos, são pontos e metáforas de caminhos seguros a uma realidade estética.
«Uma das características que mais me interessou explorar, é o isolar de cada um dos movimentos (que no trabalho de Muybridge aparece na sequência completa) tornando cada corpo no autor de um gesto que não compreendemos e temos dificuldade em imaginar como se seguirá, se terá continuação e nos deixa uma certa angústia e perplexidade que me interessa gerar. Como se houvesse uma cadência interrompida, que em música designa uma progressão harmónica que não resolve para um acorde perfeito e que nos liberte assim da tensão anteriormente gerada, mas antes nos deixa suspensos nessa mesma tensão». - Manuel Luís Cochofel
O projecto Binary Bodies – After Muybridge, de Manuel Luís Cochofel, esteve patente na Galeria Fábulas (Calçada Nova de São Francisco). Uma exposição Umbigo, com curadoria de Elsa Garcia e Miguel Matos.
lambda print, 81x138 cm
lambda print, 188x114 cm
lambda print, 55x88 cm
lambda print, 40x50 cm each image
lambda print, 30x40 cm
lambda print, 40x50 cm each image
lambda print, 30x40 cm
lambda print, 30x40 cm
lambda print, 30x40 cm